Monthly Archives: August 2016

Quinta do Alcube, 100% Syrah, Setúbal, 2009

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Foi através de Carlos Campos, leitor do Blogue do Syrah, que tivemos conhecimento deste Syrah de Setúbal, completamente esgotado, até porque o da colheita de 2012, do qual apresentamos a garrafa, está também igualmente esgotado. Tudo isto se passou no dia 1 de Julho quando o nosso estimado referido leitor nos enviou o seguinte email:

Boa tarde Francisco,
Encontrei uma garrafa de vinho Quinta de Alcube Syrah 2009 no restaurante aonde almoço diariamente. Estás interessado em provar este néctar?
O restaurante chama-se Ensaio e Temperos, fica situado no Centro cívico de Carnaxide. O dono do restaurante Zé Ribolhos, ofereceu-me a garrafa, devido à minha curiosidade acerca deste vinho.
Caso tb estejas interessado, eu proponho, bebermos juntos no dito restaurante, mas aceito outras ideias.

Cumprimentos
Obrigado,
Carlos Campos

É óbvio que o Francisco Trindade respondeu prontamente:

Carlos Campos,

muito obrigado pelo email!
Estou fascinado pelo convite!
Este fim de semana não estou cá mas podemos combinar um almoço no dito restaurante de Carnaxide!
Falamos para a semana!
O que acha?

Um abraço!
Francisco Trindade

Na semana seguinte voltámos ao contacto e lá fomos almoçar para podermos degustar este Syrah de 2009, desconhecido de ambos. Para que conste e fazer, já agora, água na boca, o almoço foi franguinho de carril, embora como é sabido a metade Vegan do Blogue do Syrah discorde da ementa, mas isso é outra história!
Esteve tudo bom: o frango e o Syrah! O caril e o frango! O Syrah e o caril! Voltaríamos a repetir se fosse possível.
Um obrigado muito especial ao Carlos Campos, se não fosse ele não estaríamos aqui a falar do Syrah da Quinta de Alcube.
Quem tem leitores assim não precisa de publicidade para nada!

Foi bebida a garrafa número mil oitocentos e dois dum total de seis mil novecentas e noventa e três. Estagiou dez meses em meias barricas de carvalho americano e francês e quatro meses em garrafa antes de ser introduzido no mercado. Tem 15% de graduação alcoólica e o enólogo responsável foi…o enólogo responsável foi…será que é necessário dizer? Só mais uma vez! O enólogo responsável foi obviamente mestre Jaime Quendera!

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A Quinta de Alcube é uma propriedade familiar inserida no Parque Natural da Serra da Arrábida que, pela sua envolvente paisagística e geográfica, proporciona um conjunto de experiências e de boas memórias para quem a visita, podendo mesmo permanecer o tempo que quiser numa das três casas rústicas totalmente equipadas.
Do século XV até ao século XXI, através dos tempos e da história, o solar de Alcube conta a história da quinta e do vale de Alcube tendo assistido à sua transformação até aos dias de hoje. É por aqui que podemos visitar o Museu da Vinha e do Vinho situa-se num genuíno lagar romano e mostra artefactos antigos relacionados com a vinha e a produção de vinho.
Datada do ano de 1750, foi construída para albergar a Cruz de Vendas, belíssimo cruzeiro gótico classificado de Monumento Nacional, com cruz floreada que ostenta Cristo crucificado numa das faces e na outra uma Pietá. É o actual símbolo da Quinta de Alcube representada no logótipo e nos rótulos dos nossos vinhos.

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A originalidade da paisagem Serra da Arrábida deve-se não só às suas características naturais mas também à remota humanização destes espaços, que de uma maneira geral se foi desenvolvendo em harmonia com o ambiente natural. O conjunto de acidentes de relevo que constituem a cadeia Arrábida, inclui elevações como as Serras de S. Luís, Gaiteiros, S. Francisco e Louro, atingindo o mais elevado expoente com a Serra da Arrábida, de constituição calcária, local onde se verifica o contacto com o mar.

E já que fomos tão bem presenteados a citação de hoje é nossa:
“Os beijos de um bom Syrah só dão alegrias ao contrário dos beijos de uma bonita mulher que mais cedo ou mais tarde só vão dar problemas!”
Trata-se de Syrah de qualidade. É pena que não haja mais! O de 2012 também já não existe, como já dissemos. Teremos que esperar pelo próximo… Pacientemente!

 

Classificação: 17/20                                          Preço: Oferta de um leitor


 

O Esporão de Napoleão

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Hoje fica uma nota informativa, resultado de um flanar em fim de tarde pela Avenida de Roma, nesta Lisboa nova, que pela antiga também poderia ser, já que a loja de que vamos falar se encontra semeada por vários pontos da capital e, até mesmo do mundo, neste caso Alemanha, vá-se lá saber porquê.

Bem, falamos da Napoleão, uma loja de vinhos, com apodo wine shops & gourmet, situada na intercepção da dita Avenida de Roma com a papal Avenida João XXI.

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Quem nos recebe é o simpático, bem informado e conhecedor Francisco Napoleão, apelido de família, originária da região de Nápoles, daí a raiz, disse.

Entrar naquele espaço que mais parece um museu, vasto de preciosidades, por vezes caótico mas muito acolhedor, é tombar no meio do que mais apreciamos: a bebida de Baco e outras espiritualidades espirituosas. Há de tudo um pouco, e também Syrah, como esperávamos e tinha de ser, e que Syrah.

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Eis então em toda a sua glória o que efectivamente queríamos partilhar, que já ficou à vista: esta preciosidade da Herdade do Esporão, de já tínhamos falado, claro, embora não de tão longa data. Isso mesmo Esporão de 2012, que entretanto já tivemos oportunidade de provar e garantimos a sua absoluta e suprema qualidade no prazer gustativo, é uma experiência do outro mundo e de outro tempo.
Um Syrah sabe envelhecer como poucos!
O preço a condizer, mas achamos que está dentro do que merece.

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Pois é, quando pensávamos que as emoções tinham terminado, olhando para uma alta prateleira em local improvável, lá estava o exemplar único, a jóia da coroa: Herdade do Esporão 2001, caramba!
Como ficámos sem palavras e não lhe pudemos chegar, fica a sugestão amigável, fácil de adivinhar, se algum dos nossos leitores for mais alto do que nós e nos quiser convidar…

Assim nos despedimos de Napoleão e seu exército vencedor ali para os lados de Roma. Façam-nos chegar palavra, se for o caso.


 

Fernão Pó, Adega-Winery, 100% Syrah, Setúbal, 2015

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Mais um Syrah de Setúbal, e de 2015!
Fernão Pó de seu nome, que já tinha sido aqui apresentado.
Nome de explorador e navegador do século XV, este Fernão Pó é bom, é aromático embora na nossa apreciação sejamos de referir que ainda precisa de tempo para evoluir e com esta ressalva podemos dizer que é o melhor Syrah que esta casa já apresentou. Quanto tempo para melhorar? De seis meses a um ano é a nossa previsão!

As notas de prova do enólogo dizem que este Fernão Pó possui “Média concentração, aroma com frutos negros e leve nota de pimenta preta. Macio e fácil na boca, boa acidez, taninos macios, tudo apontando para consumo imediato. Tem carácter gastronómico.” A graduação alcoólica é de 14%. O enólogo é João Palhoça.

Na península de Setúbal, o nome Fernando Pó, freguesia de Palmela, é incontornável quando se fala de vinhos. A Adega Fernão Pó é uma empresa familiar de Fernando Pó, outra maneira de referir o mesmo nome, concelho de Palmela, resultado da junção das famílias Freitas e Palhoça. Ligadas à viticultura e produção de vinho há gerações, reúnem dois ramos da história vinícola de Fernando Pó.

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Na Adega Fernão Pó a escolha de castas tem sido por experimentação, em busca de um perfil de vinhos genuíno, complexo e gastronómico. Nos 60 hectares de vinhas da família destacam-se 34 hectares de Castelão, a casta de eleição da região. Mas também a apimentada Cabernet Sauvignon, que aqui amadurece bem, e ainda Touriga Nacional, Merlot, Alicante Bouschet, Tannat e Syrah. Nas castas brancas, a popular branca Fernão Pires, Síria, Verdelho, Viozinho e Moscatel.
A Adega foi alvo de constantes melhorias ao longo do tempo, tendo capacidade de transformação de cerca de 1000 toneladas de uvas.

O gastrónomo francês Brillat- Savarin disse, quando após a refeição lhe foram oferecidas uvas como sobremesa:
“Obrigado”, disse ele, “mas não tenho o hábito de tomar o meu vinho em pílulas”.

O Fernão Pó Syrah ainda não é um grande Syrah, mas é um genuíno Syrah, nascido nas areias de Fernando Pó. Mas vai crescer!
Vamos esperar para ver mas podemos sempre ir degustando!

 

Classificação: 15/20                                                     Preço: 3,89€


 

A Syrah é um lugar comum no mundo do vinho?

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Vem este nosso texto de hoje a propósito de uma crónica de João Afonso intitulada “Made in Portugal to Usa” e publicada na Revista de Vinhos nº 320 do passado mês de Julho do corrente ano, na página 70. A crónica fala de um convite feito e aceite pelo cronista para se deslocar aos Estados Unidos e dar várias palestras sobre vinhos portugueses relativos a uma determinada região.

A questão que nos levou a escrever este texto tem a ver, como não podia deixar de ser, com o tema Syrah!
O cronista a dado passo da sua apresentação fala das castas tintas mais representativas em Portugal e, para além das castas autóctones, fala naturalmente das castas internacionais que segundo ele, “fazia torcer o nariz à maioria dos assistentes”. E acrescenta: “Alguém perguntou mesmo por que perdemos tempo a fazer vinho de Syrah. A Syrah é um lugar-comum no mundo do vinho. E interessa a Portugal, um país tão pequeno e diferente, estar nesse lugar-comum?”

Será que a Syrah é um lugar comum no mundo dos vinhos?
Será que Portugal é um país assim tão pequeno?
Fazer vinho de monocasta Syrah será mesmo perder tempo?

A Syrah é um lugar comum no mundo dos vinhos!
O que é que isto significa?
É por ser uma casta presente em todos os continentes? Por exemplo na Austrália é a casta número um. E o que dizer dos Syrah australianos? Esses americanos que se manifestaram nas palestras não conhecem o Syrah australiano? E o João Afonso o que diz sobre isto?

Portugal é um país tão pequeno. Será que isto é verdade? Das cerca de quinhentas castas existentes no mundo trezentas e cinquenta existem em Portugal!
Isto diz muito sobre a variedade e da possibilidade de fazer vinhos. O João Afonso sabe tão quanto nós que dos trezentos e cinco concelhos existentes em Portugal só dois, repetimos, dois, é que não têm vinha. Para que conste são a Amadora e o Barreiro. Isto é ser um país pequeno? A seguir aos colossos vitivinícolas da Europa, América, Austrália, China e África do Sul, Portugal vem imediatamente a seguir no décimo primeiro lugar, mas sendo de todos os países incomparavelmente o mais pequeno. Uma coisa é o tamanho do país em termos geográficos outra coisa é a percentagem de vinha plantada e aí ninguém nos supera.

Fazer monocasta Syrah será mesmo perder tempo?
Afirmar isto só pode ser por ignorância ou má fé. Mas tendo em conta o conhecimento que o Blogue do Syrah tem em relação ao mercado vinícola português é mesmo ignorância. Daí a razão da nossa existência.

E depois há um outro aspecto que não sabemos se o João Afonso tem plena consciência dele. É que o Syrah português é muito bom! Esse é outro aspecto que justifica a existência do Blogue do Syrah. Dizer que o Syrah português não é exportável é uma declaração infeliz. Damos só um exemplo: O Dona Dorinda, de Évora, custa no mercado português dezasseis euros e noventa e cinco cêntimos. Entre outros mercados é vendido nos Estados Unidos em dois restaurantes topo de gama de Nova York por noventa dólares a garrafa! É perda de tempo exportar Syrah português?

Não é uma casta autóctone, diz-se.
Esse é um argumento de peso que está no coração de muitos produtores, enólogos e enófilos.
É um argumento de peso porque é verdade e além disso a Syrah existe em Portugal há uns escassos vinte anos (falta definir exactamente o ano concreto. O Blogue do Syrah está a realizar uma investigação há algum tempo de modo a conseguir responder exactamente a essa questão…mas adiante). Mas se esse argumento só por si fizesse a diferença, não consideraríamos o Alicante Bouschet  como uma casta portuguesa, do Alentejo, que não é, mas está tão entranhada no vinho alentejano há mais de um século que ninguém hoje em dia diz que se trata de uma casta francesa, de Bordeaux. Não estamos a dizer que o mesmo pode acontecer ao Syrah. Mas se voltarmos a este argumento daqui a cinquenta anos de Syrah em Portugal será que ainda fará sentido?

Podia ter sido assim que o João Afonso responderia aos americanos que se referiram ao Syrah português da maneira como o fizeram. Não tira o mérito que as  castas autóctones possuem, mas não valoriza, por ignorância, a capacidade vitivinícola que Portugal possui.

Um agradecimento ao João Afonso cujo texto possibilitou esta réplica!


 

São Filipe, Filipe Palhoça, 100% Syrah, Setúbal, 2015

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A Quinta da Invejosa no Poceirão tem para apresentar um Syrah a 100%, como deve de ser,  sempre!
E que Syrah! Bem superior às safras anteriores! Basta ser de 2015!
Tomem nota: daqui a uns anos bastará dizer que é Syrah de 2015 para se saber da sua superioridade em relação às colheitas anteriores!

A boa relação qualidade/preço fazem deste Syrah uma boa hipótese para o consumo diário da nossa beberagem preferida. A fermentação foi feita a 28ºC, com desengace total e maceração peculiar suave e prolongada em cubas de inox, seguida de estágio 8 meses em barrica de carvalho. As notas de prova falam em “cor granada, com um aroma intenso e marcado por especiarias com corpo robusto e típico da casta. O paladar é macio e volumoso, com taninos suaves. O final é suave e persistente.” Tem um teor alcoólico de 14% e o enólogo responsável, como não podia deixar de ser, porque estamos a falar de um Syrah de Setúbal, é o grande enólogo Jaime Quendera!

Filipe Palhoça, como produtor de vinhos, viu as suas raízes crescerem a partir de uma pequena e antiga adega pertencente a seu pai, João Loureiro Palhoça. Desde cedo ligado ao mundo da viticultura e produção de vinhos, consegue adquirir novas propriedades e construir uma nova adega em 1984, na Quinta da Invejosa, freguesia do Poceirão.
Durante cerca de 20 anos a produção esteve orientada para o mercado a granel, mas com a crescente alteração do consumo e dos mercados nacionais e internacionais, deu-se início, em meados da década de 90, a uma nova fase de comercialização e engarrafamento do vinho, produzido com marca própria. Actualmente os vinhos são vendidos directamente na adega e em cadeias de supermercado.

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As vinhas estão localizadas no concelho de Palmela, nomeadamente entre as freguesias de Poceirão e Marateca, em solos com características especificas e únicas desta região, designadamente solos arenosos. No campo ambiental todas estão inseridas no regime de produção integrada, respeitando assim o ambiente ao utilizar o menos possível produtos químicos. Equipada com a mais moderna tecnologia, todo o equipamento em inox, com cubas e lagares ligados ao sistema de frio com o objectivo de assegurar as fermentações a temperaturas controladas, capaz assim de vinificar toda a uva das várias propriedades de forma a produzir vinhos de qualidade.

Charles Baudelaire dizia:
“Embriaga-te sem cessar! Com Syrah, com poesia e com virtude!”
O São Filipe que hoje aqui nos trouxe convida a uma virtuosa embriaguez com basta virtude… vamos a isso!

 

Classificação: 16/20                                                Preço: 5,99€


 

Monte Alegre, Quinta do Monte Alegre, 100% Syrah, Setúbal, 2013

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O Syrah 2013 da Quinta do Monte Alegre aparece este ano com uma nova roupagem, por sinal bem melhor que a anterior, em nossa opinião. A colheita é também de qualidade superior. Bem vistas as coisas ficamos todos a ganhar. O produtor mas também, como é óbvio, o consumidor.

A Quinta do Monte Alegre está localizada em Fernando Pó, terra de vinho por excelência. Em termos de notas de prova, podemos falar de “fruta preta densa, notas químicas de alcatrão, cacau tostado, num todo intenso e imponente. Encorpado e texturado, com acidez alta bem integrada, taninos finos bem envolvidos, tudo franco, bem feito, directo.” Este Syrah tem uma graduação alcoólica de 14,5% ao contrário do Syrah do ano anterior que tinha 14%.

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A Adega Xavier Santana foi fundada em 1926 por Xavier Santana precisamente, empresa que permaneceu em seu nome próprio até à década de 70, quando foi constituída em Sociedade Familiar com a designação actual de XAVIER SANTANA SUCESSORES, LDA.
A actividade comercial da empresa centrou-se inicialmente na produção e comercialização de vinhos em barril e na preparação de azeitonas de mesa, na sua adega localizada na vila de Palmela, até aos dias de hoje. Em 1990, a conjuntura de mercado proporcionou o investimento da empresa no engarrafamento dos vinhos como aposta na sua expansão a vários níveis, sustentada pela relação superior de qualidade/preço dos seus produtos. Com o engarrafamento dos seus vinhos, a Xavier Santana apresentou-se ao consumidor com a marca de vinho de mesa Casta Rica, à qual se seguiu a marca Xavier Santana para vinho generoso, e mais recentemente, as marcas Terras da Vinha e Quinta do Monte Alegre, vinhos de Indicação Geográfica ‘Península de Setúbal’ e ‘Palmela D.O.’ respectivamente – os quais vieram a assinalar um novo patamar evolutivo na história da empresa.alegre_empresa

Aaram Sequerra disse:
“Quando tomados em pequenas quantidades, o vinho ou outras bebidas de baixa graduação alcoólica elevam o bom colesterol”.
Então olhem, mais um golinho da Quinta do Monte Alegre, para ser apreciado e alegrar o coração de quem bebe com sabedoria!

 

Classificação: 16/20                                                     Preço: 5,50€

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