Monthly Archives: November 2016

Syrah da Peceguina, Herdade da Malhadinha Nova, 100% Syrah, Alentejo, 2010

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Mais uma revisitação deste Syrah alentejano, após termos descoberto uma garrafa perdida que estava mesmo à nossa espera!

A análise inicial tinha sido feita há 22 meses, em Janeiro de 2015. Hoje voltamos à carga para perceber como é que está este Syrah de 2010. E não é que continua muito bom e até melhorou desde então. E mais uma vez o problema é que já não há mais e não se sabe quando é que haverá!

O Syrah da Herdade da Malhadinha Nova é produzido em 27 hectares de vinha, resultando daí um Syrah poderoso! O teor alcoólico é de 15,5%. Foram feitas 6195 garrafas de 0,75l e 100 garrafas de 1,5l.

Em conversa com o enólogo da casa, Nuno Gonzalez, ficamos a saber que esta safra é somente a segunda que a Herdade da Malhadinha Nova fez de monocasta Syrah. O Syrah foi envelhecido em barrica. As uvas foram colhidas manualmente para caixas de 12 Kg e seleccionadas na mesa de escolha. A fermentação ocorreu em lagar a temperatura controlada com várias pisas durante todo o processo. Estágio de 18 meses, e não de 12 meses como diz na ficha técnica, em barricas novas de carvalho francês. Na ficha é dito, e nós confirmamos, que “espere pois no seu copo um vinho impetuoso, viril e carnudo, que nos deleita com o seu fruto maduro e que impressiona pelo seu corpo.” Também é dito que poderá ser guardado nas condições adequadas durante os próximos 10 anos. Temos pena que isso não possa acontecer!

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A Malhadinha Nova é uma típica herdade familiar alentejana, situada em Albernoa, no coração do Baixo Alentejo. Desde 1998, a paixão e empenho da família levaram à transformação de terras havia muito abandonadas em solos capazes de dar vida a produtos genuinamente alentejanos e de elevada qualidade, dedicando-se à produção de vinhos e à criação de animais de raça autóctones em total harmonia com a Natureza e rigoroso regime de protecção com denominação de origem protegida.

A Adega da Malhadinha Nova, tradicional mas sofisticada, reúne um conjunto de características muito favoráveis à obtenção de vinhos distintos. Situada a escassos metros da vinha, a adega aproveita a inclinação do terreno, permitindo que todo o processo de vinificação se faça por gravidade. Como já referido, a uva é recebida em pequenas caixas de 12kg e descarregada directamente para os modernos lagares refrigerados, onde a pisa a pé conjuga na perfeição métodos tradicionais de vinificação e utilização de tecnologia por forma a obter da uva todo o potencial que a Natureza lhe deu na vinha. A cave de barricas, escavada na encosta a vários metros de profundidade, confere ao vinho excelentes condições para o envelhecimento. A vinificação ocorre de forma tradicional em lagares, graças à estrutura da adega em vários níveis, todo o processo é feito por gravidade, evitando a utilização de bombas susceptíveis de retirar muita da qualidade pretendida.

Do poeta francês Charles Beaudelaire lembramos o poema A Alma do Vinho, e o excerto que diz: “A Alma do vinho assim cantava na garrafa: Homem, ó deserdado amigo, eu te compus, Nesta prisão de vidro e lacre em que te abafas, Um cântico em que só há fraternidade e luz!”
Um topo de gama do qual vamos ter muitas saudades!

 

Classificação: 19/20                                              Preço: 20,00€

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Fonte grátis de vinho em Itália, região de Abruzzo

Se estivéssemos pois em Caldari di Ortona, na dita região, poderíamos ter vinho grátis de uma fonte pública, instalada por uma vinícola local, a Dora Sarchese, que funciona 24 horas por dia. A ‘fontana di vino’ fornece vinho tinto e basta carregar num botão para sermos servidos

Todos podem usar a fonte livremente, embora exista principalmente para matar a sede dos que fazem o Caminho de Santiago em peregrinação, que por ali passa.

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Caldari di Ortono pertence à região demarcada de Montepulciano d’Abruzzo Colline Teramane, mas a Dora Sarchese não revela que tipo de vinho alimenta a fonte.

Milhares de pessoas percorrem o Caminho de Santiago entre Roma e Ortona todos os anos, portanto imagina-se que o fontanário tenha muito público.

De qualquer maneira a ideia não é original, fontes de vinho por toda a Europa já existiram em tempos. Veneza teve uma na praça de S. Marcos durante o Carnaval. Em 1520, durante o encontro de Henrique VIII de Inglaterra e Francisco I de França, uma fonte de vinho grátis foi instalada no local para ser usado pelos participantes à conferência.

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Em Abruzzo, a Dora Sarchese enfatiza que a fonte de vinho tinto não é para as pessoas se embriagarem, mas que foi criada por consideração com a cidade e os peregrinos. E nós aqui a imaginar se o que sai da torneira for Syrah, então…!


 

Vidigueira Reserva, Adega Cooperativa da Vidigueira, 100% Syrah, Alentejo, 2014

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Foi com muita alegria que recebemos a notícia deste novo Syrah porque, de alguma maneira, veio colmatar uma lacuna na quantidade de Syrah que nos chega do Baixo Alentejo. Quantidade essa que tinha vindo a baixar com alguma regularidade, ao contrário dos irmãos do norte, sempre a aumentar e com grande pujança. Desta maneira o Baixo Alentejo pode, a partir de agora, contar com mais um Syrah.
E podemos desde já dizer: é um Syrah de qualidade, mesmo!

100% Syrah, 12 meses de estágio em barricas novas de carvalho francês, cor ruby, quase opaco, cheio de brilho, é um néctar aromático, com fruta preta muito madura, notas de madeira e especiarias, com um toque balsâmico. Um tinto muito encorpado, concentrado, cheio de fruta, intenso e amplo… puro deleite!

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A Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito, C.R.L., constituída por escritura pública em 1960, iniciou a sua actividade em 1963. É o resultado do sonho, esforço e trabalho da maioria dos viticultores das regiões de Vidigueira, Cuba e Alvito, assente na experiência da tradição e no reconhecimento da reinvenção, sustentado por uma qualidade reconhecida e rememorada. Entre os efectivos vitícolas da Adega contam-se as melhores castas autóctones, mantidas por várias gerações, das quais se distingue a casta Antão Vaz, igualmente conhecida como «casta da Vidigueira», produtora de um branco que está na origem do reconhecido Branco do Alentejo.

A história da Adega vai muito além dos seus 50 anos de existência, tendo antigas raízes que se entrelaçam com a história da própria vila, «a villa da Vidigueira, cuja etymologia querem derivar de Videira, em razão de abundarem nos seus  férteis terrenos as vinhas, está situada n’uma collina distante a vinte e dois kilometros de Beja e vinte e cinco da cidade de Évora.» (Augusto Carlos Teixeira Aragão, 1871). Em 1519, a Vidigueira foi cedida a Vasco da Gama pelo duque D. Jaime, Duque de Bragança, com escritura ratificada por carta régia de D. Manuel I, começando assim a profunda relação da vila com os Gamas. A vinha e o vinho sulcam o perfil económico e cultural da Vidigueira. Envolvidas num rendilhado de cepas, Vidigueira, Cuba e Alvito  integram a paisagem a que Fialho de Almeida chamou «O País das Uvas».

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É neste quadro que surge pela primeira vez este nosso aqui de hoje em destaque Syrah!
São várias as castas que contribuem para a especificidade dos  vinhos da adega da Vidigueira: Aragonez, Trincadeira, Alfrocheiro, Castelão, Moreto, Alicante Bouschet e agora syrah (castas tintas) e Perrum, Roupeiro, Manteúdo, Arinto e Antão Vaz (castas brancas), no entanto, é esta última que tem conferido à sub-região vitivinícola da Vidigueira um maior reconhecimento. Até recentemente, não foram encontradas vinhas velhas da casta Antão Vaz fora da sub-região da Vidigueira, uma casta autóctone mantida pelos produtores da região e produtora de um vinho único. Não se sabe ao certo a origem do nome da casta Antão Vaz, mas curiosamente era este o nome do avô de Luís Vaz de Camões, poeta que celebrou os descobrimentos e a descoberta de Vasco da Gama.

E já que falamos do poeta d’Os Lusíadas, que seja dele a citação que escolhemos para apresentar este Syrah, que assim dizia falando de um “Ardente licor que dá alegria!”
É exactamente o que pensamos a propósito deste sublime néctar da Vidigueira, que será nas próximas semanas o nosso companheiro dos longos serões de Inverno que se aproximam. Façam-nos companhia!

 

Classificação: 17/20                                           Preço: 17,50€


 

Cidades do Vinho – Alentejo, como aproveitar?

Hoje, às 18:15,  voltamos às (feminino porque é uma tertúlia) Coisas de Vinhos.

O espaço é de excelência, a Igreja de S. Vicente, no centro UNESCO da cidade de Évora.

Ainda não é desta que lá estaremos, mas fica a informação aos nossos leitores.

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Branco ou Tinto? por Joana Maçanita, FNAC – Novembro 2016

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Falou-se que ia estar presente Syrah por quem bem o sabe fazer, e lá fomos nós esta segunda-feira ao fim da tarde em direcção à FNAC-Colombo, para o lançamento oficial do livro de Joana Maçanita, Branco ou Tinto?.

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Que precisamente já conhecíamos, a autora e o livro, pois recentemente tínhamos estado com Joana Maçanita no Encontro Vinho e Sabores, na FIL. Foi aí que gentilmente nos passou a informação, que já noticiámos com grande júbilo, de que havia produzido dois Syrah absolutamente novos para dois produtores do Algarve, a Quinta do Barradas e a Quinta João Clara. Igualmente logo ali tomámos conhecimento do livro que aqui nos traz hoje, e nos foi feita a simpática dedicatória, que agradecemos.

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Muito apreciámos todo o acontecimento, mas o que para nós é memorável foi o gesto de extrema consideração de Joana Maçanita e Nuno Mouronho, seu marido, ao terem levado expressamente para o Blogue do Syrah o ainda não disponível no mercado Quinta do Barradas Reserva Syrah, que logo ali se revelou bastante prometedor… os nossos sinceros agradecimentos!  Em breve falaremos deles com todo o detalhe.

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O livro em si é uma festa para os olhos, bem escrito, de linguagem simples e acessível. Qual é o seu queijo preferido? Gosta de sobremesas mais doces ou mais amargas? E o seu café bebe-o como? É mais dado à salsa e coentros ou à paprica e pimenta-preta?

O que é que estas perguntas têm a ver com vinho? Tudo. Joana Maçanita, consultora enológica e produtora de vinho, começa este livro com um questionário para perceber que tipo de consumidor de vinho é. Será um adepto ferrenho que adora experimentar de tudo? Um especialista que quer aprofundar o seu conhecimento? Ou um apreciador de vinhos frutados, complexos? Uma vez definido o seu perfil de consumidor, é altura de responder a todas as suas questões práticas sobre este mundo… Sim, mesmo aquelas que, habitualmente, têm vergonha de perguntar, para não fazer má figura!

Eis pois um guia essencial que lhe traz tudo o que precisa de saber para escolher o vinho certo para qualquer ocasião, como comprar sem gastar muito dinheiro, como ler um rótulo, abrir uma garrafa, escolher o copo certo e apreciar um bom vinho.

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Ainda houve tempo de posar ao lado de um dos grandes enólogos do Syrah, António Maçanita, irmão de Joana, e a quem já dedicamos uma devida homenagem.

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Foi um fechar de tarde em grande!


 

Abrir uma garrafa de Syrah

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Abrir uma garrafa de Syrah tem sempre uma motivação e um significado com raízes bem profundas e abrangentes.

É um momento de certa ansiedade, pois, mesmo sabendo o que se vai encontrar, o contexto de antecipação e surpresa sempre será distinto, fazendo desse acto algo diferente dadas todas as variáveis presentes, e sabemos que são muitas: terroir, características climáticas do ano, etc, etc.

Momento de expectativa que pode igualmente agregar alguém ao convívio, propiciando uma boa conversa com um grupo divertido, ou mesmo só a dois, trazendo um toque “aveludado” ou “apimentado” ao relacionamento, entre humanos ou entres estes e o Syrah. Podemos ser, por vezes, mais analíticos, mas em outras ocasiões, simplesmente apreciadores inconscientes, beber por beber, por puro prazer.

Porque sentir prazer ao abrir uma garrafa de um novo Syrah, ou um já sobejamente conhecido, é um verdadeiro privilégio, um momento sempre único e memorável.

Quem já sentiu estas impressões, expressas neste nosso filosofar de hoje , que faça o seu comentário.

E até ao próximo texto!