
“Desde quando existe Syrah em Portugal?”
Esta é uma questão que tem merecido a nossa atenção, ainda antes de termos começado o Blogue do Syrah propriamente dito!
E quando colocamos a questão estamos a falar do produto feito e pronto a beber, monocasta Syrah, portanto!
Porque este tema poderia ser introduzido de outra maneira e aí teria uma resposta diferente: há quanto tempo é que foi plantada a primeira vinha com Syrah em Portugal? Esta segunda questão é ainda mais difícil de desvendar, porque apesar de vinte ou vinte e tal anos de Syrah em Portugal, em termos vitivinícolas ser muito pouco tempo, a verdade é que as respostas são muito complicadas, ou porque as pessoas se foram esquecendo de factos e datas, não valorizando propriamente este tipo de informação, ou porque este tipo de história não dá dinheiro… adiante.
Há sempre alguém que pode perguntar: e o I.V.V? O que é que o Instituto do Vinho e da Vinha tem a dizer sobre isto? A resposta é: provavelmente muito, mas a verdade é que não querem saber nem estão disponíveis para falar de tal coisa! O Blogue do Syrah telefonou para o I.V.V. e estabeleceu contacto com uma engenheira da casa, supostamente com a possibilidade de esclarecer as dúvidas. Foram mantidos contactos por mail, mas a verdade é que as respostas nunca vieram. O I.V.V. como bom organismos estatal que é, só serve mesmo como sorvedouro de dinheiros públicos e pouco mais. E para proibir quando tem de proibir, em ditatorial atitude. O esclarecimento de dúvidas não existe e com isto está tudo dito!
Voltamos à pergunta inicial: “Há quanto tempo que existe Syrah em Portugal?”
Pergunta esta que pode ter duas respostas possíveis. A resposta, por aquilo que já dissemos acima, por aquilo que se ouviu, até por uma resposta plausível mas sem prova concreta, ou então, e porque o Blogue do Syrah não se pode dar ao luxo de perder credibilidade, a resposta oficial com as únicas provas que existem e que o Blogue do Syrah procura desde há vários anos é de que existe Syrah em Portugal há precisamente 20 anos!
Mas um produtor do Alentejo confidenciou-nos há uns anos que já nos anos 80 utilizava Syrah nos seus vinhos! Provavelmente outros o fariam também. Perante o nosso entusiasmo e a pergunta por uma qualquer prova, como uma garrafa cheia ou vazia, um rótulo, um documento qualquer que servisse de prova a tal afirmação, a resposta foi de que não havia, nem ninguém queria tal coisa, pois a casta Syrah era proibida e não se falava sobre isso, nem os rótulos faziam tal menção.
Também durante vários anos foi enunciado, embora nunca defendido claramente, que a primeira colheita do Syrah da Quinta da Lagoalva de Cima de Alpiarça do Ribatejo, teria sido em 1994. Quando o Blogue do Syrah começou a investigar falando quer com o produtor da quinta, quer com os enólogos, assim como com o delegado comercial, ninguém foi capaz nem de esclarecer, nem de apresentar uma prova inequívoca da existência dessa colheita e no caso afirmativo, esclarecer se se tratava de um monocasta Syrah ou se poderia ser, como chegou a ser aflorado um blend com Syrah.
Apresentando estes factos como esclarecimentos importantes, estamos em condições de aqui apresentar, para que conste para a História do Syrah em Portugal, que o primeiro Syrah português foi lançado em Portugal há precisamente 20 anos! Foi nesse ano de 1997 que saiu não um, mas dois Syrah em Portugal! Um na região vitivinícola de Lisboa, nessa altura designada de Estremadura. E o outro na região do Tejo, nessa altura designada de Ribatejo. Um ano mais tarde sairia o primeiro Syrah do Alentejo, o mítico Incógnito de 1998, que levou a casta Syrah a todo o Alentejo e daí para todo o país!
Eis de seguida os três Syrah pioneiros que foram produzidos em Portugal:

Reserva, Quinta do Monte d’Oiro, 96% Syrah, 4% Cinsaut, Lisboa
Falemos então dos Syrah que esta quinta tem produzido desde 1997.Comecemos por dizer que a frase mais apelativa e forte que o Francisco Bento dos Santos utilizou na visita que o Blogue do Syrah fez à Quinta do Monte d’Oiro foi: “Somos especialistas em Syrah” e isso para nós toca-nos de modo muito especial. Apetece responder com uma frase da nossa lavra:
“O Syrah dá-te a possibilidade de perder a inocência, sem perder a virgindade.”
A opção Syrah em toda a sua pujança que levou a esta especialização deve-se à paixão do fundador José Bento dos Santos pelos grande vinhos do Rhône, onde a nossa casta é soberana, igualmente pelas características do “terroir”, que se veio a revelar ideal sendo uma aposta ganha, e depois toda a aprendizagem e experiência que se foi desenvolvendo e acumulando ao longo dos anos.
Temos em primeiro lugar o Reserva, que existe desde 1997, (o Blogue do Syrah teve um exemplar desse ano nas mãos, durante a já referida e memorável visita) que é para a Quinta o Syrah que não pode deixar de ser produzido. Tem uma pequena (menos de 5%) quantidade de Cinsaut que, por esse tempo, estava plantada na Vinha da Nora (já entretanto substituída por Syrah), e é o Syrah mais parecido com os Syrah franceses do Vale do Rhône, considerada a referência a nível mundial. Em 1997 a quinta ainda usava 100% barricas novas, e só quase 10 anos mais tarde começou a reduzir a percentagem de madeira nova nos tintos, para os actuais mais ou menos 40% no Reserva.
Olhar para esta garrafa é sentir o tempo apurado em eflúvios ancestrais!
A tiragem corrente, já com Viognier, tem 14% de graduação alcoólica e produzem-se em média 24 mil garrafas. É o seu Syrah de marca! As notas de prova que escolhemos dizem que é um vinho de “Rubi concentrado, negro. Aroma frutado com predominância para as ameixas pretas bem maduras e frutos do bosque, ligeiras notas tostadas e de especiarias finas. Elegante na boca, revela um conjunto equilibrado entre a fruta e a madeira bem integrada, taninos aveludados, acidez correcta, final muito prolongado e distinto.” Teve um estágio de 18 meses em barricas de carvalho francês, das quais 40% eram novas.

Quinta da Lagoalva de Cima, 100% Syrah, Tejo
Apenas feito em anos excepcionais, este vinho de cor granada e aroma intenso tem no nariz segundo os seus produtores “notas de especiarias, fruta preta madura e tabaco. Na boca tem profundidade, taninos elegantes e um final longo.”
Feito pelos enólogos Diogo Campilho e Pedro Pinhão, o Syrah da Quinta da Lagoalva de Cima provém de pequenos talhões cujas uvas seleccionadas são vindimadas à mão para caixas, e chegam à adega ainda durante a manhã. Após 3 dias de maceração pré fermentativa, a fermentação alcoólica ocorre em lagares de inox a 24ºC. As massas são espremidas em prensa hidráulica e a fermentação malo-láctica ocorre em barricas (novas e 1º ano) de carvalho Francês, onde estagia doze a catorze meses.
A primeira safra é de 1997 e as seguintes aconteceram em 2000, 2005, 2008, 2010 e a presente de 2012.
A Quinta estende-se pela margem sul do Tejo, desde perto da vila de Alpiarça até cerca de onze quilómetros da cidade de Santarém.
A Quinta tem uma longa tradição como produtora de vinhos, que remonta a 1888, ano em que esteve presente na Exibição Portuguesa de Indústria. Com uma área de sete mil hectares aproximadamente, as suas principais produções são o vinho, o azeite, a cortiça, a floresta, cereais, vacas e ovelhas, e o cavalo lusitano. A produção anual ronda as duzentas e setenta mil garrafas e os cinquenta hectares de vinhas da Quinta da Lagoalva estão implantados nos melhores “terroirs” do Tejo, e são constituídos pelas castas nacionais e mundiais com as melhores aptidões, enologicamente comprovadas.
Como dizia Roland Betsch, segundo a nossa versão: “No Syrah está verdade, vida e morte. No Syrah está aurora e crepúsculo, juventude e transitoriedade. No Syrah está o movimento pendular do tempo. No Syrah se espelha a vida.”
Este é um Syrah que vale mesmo a pena apreciar intensamente, e ao qual ciclicamente voltamos, porque se trata, à falta de melhor adjectivo, de um Syrah fabuloso!

Incógnito, Cortes de Cima, 100% Syrah, Alentejo
Se há um Syrah capaz de atingir o espaço sideral mitológico, esse Syrah só pode ser o Incógnito! Mesmo estando a falar de acontecimentos que ocorreram nos últimos vinte anos, que quando falamos de Syrah em Portugal é tudo muito recente, este Syrah é já um mito vivo!
As notas de prova incluídas na garrafa dizem-nos que possui uma “mistura de frutos selvagens de bago vermelho, tosta de madeira, carne e notas de alcatrão. No paladar é complexo, com um forte paladar de fruta silvestre madura e um equilíbrio cativante. Suave no início, mostrando-se firme ao longo da prova, excelente estrutura de taninos e uma agradável frescura, com boa acidez a contribuir para um longo e persistente final.” Segundo o seu produtor vai manter-se grandioso pelo menos 10 anos. Safras anteriores do Incógnito já mostraram que a longevidade deste néctar está muito acima da média. O estágio foi feito em barricas de carvalho francês. A colheita, produção e engarrafamento é feito na propriedade familiar.
Por isso é que se trata de um vinho histórico, porque foi o primeiro Syrah a ser produzido no Alentejo. Estávamos em 1998, quando a casta ainda não era permitida na região. Daí o nome provocador dado ao vinho, era um Syrah incógnito.
Na época, a casta Syrah não fazia parte das variedades autorizadas na designação Vinho Regional Alentejano (o que só veio a acontecer em 2002), obrigando Jorgensen a comercializar o vinho sem explicitar a casta no rótulo. Contudo, apesar de a casta Syrah não ser identificada, no contra-rótulo era dada uma pista, mais precisamente um acróstico, para quem soubesse ler na vertical e decifrar o enigma:
Select fruit from
Young vines, well
Ripened,
And hand
Harvested.
Literalmente: “frutas seleccionadas de vinhas jovens, bem maduras, e colhidas à mão”. Dessa colheita inicial de ‘Incógnito’, em Cortes de Cima, consta que só há… 4 garrafas! Para reforçar, Jorgensen ainda colocou a frase atribuída ao agora Nobel da Literatura Bob Dylan “To live outside the law, you must be honest”, que em tradução livre significa “Para viver à margem da lei, tem que se ser honesto”. Ou num tom ainda mais ético: “Só se pode viver à margem da lei se formos honestos”.
E pronto, a apresentação está feita, provada e comprovada. Aquilo que ficará para a História foi escrito.
Contamos estar aqui por mais 20 anos, sorvendo os eflúvios do melhor Syrah do Mundo, a fazer mais História com mais Syrah.
Assim o Deus Baco nos ajude!