Monthly Archives: August 2015

Herdade das Mouras, Herdade das Mouras de Arraiolos, 100% Syrah, Alentejo, 2014

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No Alentejo mais uma vez, e sempre com todo o prazer, para conhecer este novíssimo Syrah de 2014, da Herdade das Mouras, vila de Arraiolos.

As notas de prova dizem que é “um Syrah de cor vermelho rubi. O aroma é de compota de frutas silvestres e especiarias. O paladar é encorpado e com final de boca elegante.” O consumo pode ser imediato ou durante os próximos 5 anos. A graduação alcoólica é de 13,5% e o enólogo de serviço é Jaime Quendera, homem com vasta experiência no mundo dos vinhos e muito especificamente no mundo dos Syrah.

O projecto Adega das Mouras começou no ano de 2000, com a compra das terras por parte de um empresário de Lisboa.

A herdade tem na totalidade mais de 300 hectares, estando uma grande parte ocupada com vinha. A herdade tem um verdadeiro mar de vinhas com mais de 226 hectares, sendo uma das três maiores vinhas contínuas da Europa, que ficou completa entre 2004/2005. As cepas mais velhas são de 2002, ano em que se começou a plantar a vinha. Entre 2000 e 2002 arrancou-se vinha para produção de uva de mesa que já lá existia e estudou-se o terroir específico da Adega das Mouras , de forma a preparar-se o solo para plantação de vinho e decidir-se as castas indicadas.

A casta Trincadeira, a nossa Alentejaninha representa 45% da vinha, mas há ainda Aragonez, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Syrah naturalmente, Tinta Caiada, Pinot Noir, Tinta Caiada, Tempranillo e Alicante Bouschet como castas tintas. Como castas brancas foram escolhidas 4 exclusivamente Portuguesas: Verdelho, Perrum, Antão Vaz e Arinto.

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A Adega das Mouras de Arraiolos é um projecto empresarial privado. Localizada no município de Arraiolos, histórica Vila do Alentejo, conhecida pela sua tradição secular de fabrico de tapetes bordados à mão, com o mesmo nome da terra, a Herdade das Mouras de Arraiolos é um testemunho vivo de uma nova geração de produtores que enriquece as mais genuínas tradições.

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O enólogo desta casa é Jaime Quendera, responsável por fenómenos de popularidade como os vinhos da Adega de Pegões e da Casa Ermelinda Freitas, que aliam a qualidade a um preço muito competitivo. Apesar de ser uma empresa ainda pouco conhecida no mercado, inclui as referências Castelo de Arraiolos, Conde de Arraiolos, Mouras de Arraiolos, Moira´s, Monte das Parreiras, Maria da Penha, Talha Real, Vinha da Mouras, Adegas das Mouras, entre outras. A aposta vai para a venda em quantidade nas grandes superfícies, não sendo por isso de surpreender que a adega tenha sido projectada, precisamente antes da vindima deste ano, para ter uma capacidade de produção de perto de 3 milhões de litros e de armazenamento cerca de 5 milhões.

Como dizia o cantor de Les Copains D’Abord, Georges Brassens, o homem de Sète:
“O melhor vinho não é necessariamente o mais caro, mas o que nós compartilhamos”

O Syrah da Herdade das Mouras é um Syrah novo, não muito complexo, fresco, para um tinto, e com uma relação qualidade/preço muito apreciável. Está aprovado!

 

Classificação: 15/20                                                     Preço: 3,70€

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Prova Cega de Syrah, Sábado, 3 de Outubro, 15:00, Garrafeira Estado D’Alma, Lisboa

É com desmesurada alegria e incontido entusiasmo que estamos hoje aqui a comunicar esta iniciativa do grupo Facebook Cegos por Provas!

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Uma prova cega exclusivamente de Syrah, que, obviamente, conta com todo o nosso apoio, e que desde já agradecemos na pessoa do seu mentor, Carlos Ramos. Igualmente a contribuir para a festa, com todo o seu saber e paladar apurado, está a vasta comunidade, liderada por Jorge Cipriano, Clube de Vinhos Portugueses. Vai ser memorável.

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Nas palavras dos próprios: “Temos o prazer de anunciar mais uma “Cegada” que, achamos, será marcante. Desta feita iremos a Lisboa, à Garrafeira Estado D’Alma, pôr à prova a casta Syrah. Estarão 20 produtores presentes que nos levarão alguns dos melhores Syrah nacionais. Todas as regiões que têm produtores a vinificar esta casta como monovarietal estarão representadas.”

Sobretudo estamos curiosos de saber como cumprem os nossos Syrah preferidos, ou seja, saber da unanimidade à volta das nossas classificações que rondam os máximos, ou vice-versa.

Vai de ser de sumo, ou melhor, de Syrah interesse!


 

Rosa Brava, Campolargo, 100% Syrah, Bairrada, 2004

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Vamos hoje falar de um Syrah da Bairrada, mais precisamente da Mealhada, de que conhecíamos a existência, elaborado pela empresa Campolargo, mas que sabíamos já indisponível. Isto foi em 2013, pelo que logo pensámos nunca iríamos conseguir sorver tal néctar. Tentámos um contacto telefónico com o produtor, que na altura confirmou o sabido, e mais nos disse que tinha sido safra única, de apenas 700 garrafas.

Mas a história ainda não tinha acabado. No passado Julho, na feira de vinhos biológicos de Lisboa, que decorreu na esplanada do restaurante “À Margem”, em Belém, eis que nos apercebemos da presença dos vinhos Campolargo, ali mesmo à nossa frente. Foi aquele frémito de esperança, havia que voltar a convocar o não olvidado Rosa Brava Syrah!

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E qual não foi o nosso espanto quando o amável produtor ali presente, Carlos Campolargo, nos confidenciou que tinha ainda em seu poder algumas caixas desse Syrah, que nunca antes nem depois a Campolargo se tinha abalançado fazer! Logo os contactos foram estabelecidos e hoje estamos em condições de podermos falar com conhecimento do Rosa Brava, e com toda a propriedade.

Em conversa com Pedro Cunha Martins, do Clube de Vinhos Winept, e que esteve ligado à ideia do Rosa Brava Syrah, foi-nos então contada a história do nome e do Rosa Brava. O nome é derivado de um romance histórico do escritor e jornalista José Manuel Saraiva, exactamente com o nome “Rosa Brava”. Para o lançamento do livro a editora teve a ideia de desafiar a Campolargo a produzir uma edição limitada de um vinho que teria o mesmo nome e que teria que ser algo de distinto! Daí surgiu o Syrah Rosa Brava, que foi divulgado juntamente com o livro no restaurante lisboeta “A Vírgula”.

No entender de João Paulo Martins, trata-se de um Syrah de “cor fechada, aroma especiado a pimenta preta, terra e pedreneira. Na boca mostra todo um lado austero de forte personalidade, muito mineral. A precisar de ser consumido com calma pois tem uma longa vida à sua frente. É pena que haja tão poucas garrafas.” Estamos de acordo, sobretudo com a última frase! E tem uma graduação alcoólica de 13,5%.

Apresentamos de seguida a sinopse que acompanhava o lançamento do livro Rosa Brava:

“Em 1368, D. Leonor Teles de Menezes, a mulher mais desejada do Reino, casa com o morgado de Pombeiro, D. João Lourenço da Cunha. O matrimónio é imposto por seu tio, D. João Afonso Telo, conde de Barcelos. Mulher fora do tempo, aceita contrariada o casamento, que a melancolia da vida do campo não ajuda a ultrapassar. Por isso, decide abandonar o marido e parte para Lisboa, para gozar a vida de riqueza e luxúria que a Corte proporciona. Perversa e ambiciosa, não tem dificuldade em seduzir o jovem monarca, D. Fernando, alcançando, desse modo, o poder que sempre desejou. Mas a nobreza, o clero e o povo não veêm com bons olhos esta aliança de adultério com o Rei. E menos ainda quando a formosa Leonor Teles se envolve com o conde Andeiro… “Rosa Brava” é um romance baseado na investigação histórica que, por entre intrigas palacianas, traições, assassínios e guerras com Castela, reinventa, numa linguagem cativante, uma das personagens mais fascinantes da História de Portugal.”

Louis Pasteur, mais uma vez ele, o cientista e poeta do divino néctar, e aliterado ao nosso modo, dizia que:
“O sabor de um Syrah é como uma poesia delicada.”
Depois de termos deambulado por este Rosa Brava Syrah, poderíamos dizer, por analogia, que o talante de um bom Syrah é como um romance histórico: fica na História!

 

Classificação: 17/20                                                     Preço: 16,95€


 

Castas D´Ervideira, Ervideira, 100% Syrah, Alentejo, 2006

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Apesar da Ervideira ser uma empresa com algum impacto não só em termos de Alentejo mas também de toda a região sul, somente fez uma safra de Syrah, no já longínquo ano de 2006. O produtor, Duarte Leal da Costa, homem de grande simpatia e boa disposição, quando em 2013 o abordamos por causa da impossibilidade de encontrar o Syrah Ervideira no mercado, rapidamente se disponibilizou para nos conseguir umas quantas garrafas.

É um Syrah diferente, a nosso ver, em termos do que consideramos o paradigma para o Alentejo. As notas de prova escritas pelo produtor no contra rótulo da garrafa dizem-nos que é “de cor intensa e aromas de compota de frutas negras, especiarias e algum fumo. Na boca é aveludado e bem estruturado, elegante e persistente, deixando uma agradável sensação de prazer.” Tem uma graduação alcoólica de 13%. No entanto, a nossa opinião é que é ligeiro de cor, o aroma é bastante neutro, com muito pouca expressão, e é bastante diluído na boca, o que faz sobressair os taninos e certa acidez que não apreciámos.

Apesar de ser um Syrah correcto, está longe de expressar o que a casta pode dar, embora mostre alguma personalidade. Nos tempos que correm, isso é uma característica a ter em conta. Como já foi dito é safra única de 2006, o produtor tem ainda algumas caixas, mas em termos práticos podemos considerar que se trata de um Syrah esgotado, pois já foi retirado do mercado.

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As propriedades de Monte da Ribeira e Herdadinha ambos pertencem à família Leal da Costa, que pode ser rastreada até ao Conde de Ervideira, um fazendeiro bem sucedido que viveu entre séculos 19 e 20. O conde, que recebeu seu título do Rei D. Carlos, em reconhecimento por seu trabalho social na região, começou a produzir vinho em 1880, como se pode ver nas garrafas que a empresa exibe com orgulho na sua sala de degustação de vinhos. Com 160 hectares de vinhedos, divididos entre as fazendas Vidigueira e Reguengos, a administração da Ervideira é realizada pela matriarca da família D. Maria Isabel e seus seis filhos, sendo Duarte Leal da Costa o director executivo. A enologia está sob direcção de Nelson Rolo.

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A nossa citação de hoje é do actor e escritor americano W.C. Fields, que dizia com característica graça “Eu cozinho com Syrah, às vezes até o adiciono à comida.”

Apesar de tudo este Castas não chegou a tanto!

 

Classificação: 15/20                                                     Preço: 7,50


 

D´Arada, Sociedade Agrícola Quinta Margem D´Arada, 100% Syrah, Lisboa, 2007

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Até à região vitivinícola de Lisboa rumamos hoje e mais uma vez para conhecer um Syrah de Alenquer, Quinta Margem D´Arada.

É mais um Syrah que enquadramos na categoria de “fraquinhos”, no sentido de caminharem para o exangue, combalido, sem chama, de aromas pouco pautados, pouco encorpados, aguados mesmo, e por aí adiante. É um Syrah com graduação alcoólica de 13,5%, do qual conhecemos esta safra de 2007, tendo já havido uma anterior em 2005, que já não conhecemos e por isso não falamos. Dá para beber no dia a dia, desde que não se tenha o pretensiosismo de querer algo acima da média, e com uma razoável relação qualidade-preço.

Apenas pelas directorias que falam dos percursos pela Rota da Vinha e do Vinho do Oeste se ouve falar desta Sociedade Agrícola Quinta Margem d’Arada, que integra três propriedades – Quinta da Margem D’Arada, Quinta da Bichinha e Quinta da Boavista. Propriedade muito antiga, com existência comprovada na época romana, a Quinta da Margem D’Arada recebe os visitantes que a ela se dirigem numa visita guiada, numa magnífica sala decorada com elementos que não deixam esquecer que se está numa propriedade agrícola dedicada à produção vinícola.

Fernanda Filipe faz as «honras da casa» e não deixa de recordar a antiguidade da propriedade explicando que está documentada nos inúmeros objectos arqueológicos ali encontrados. Outros documentos ancestrais ligam-na ao episódio da morte de D. Inês de Castro: pertenceu a Lopo de Pacheco, pai do «carrasco» da aia da rainha.

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Actualmente tem 50 hectares em produção plena, a Sociedade Agrícola Quinta Margem d’Arada aposta ainda maioritariamente no mercado nacional. Entretanto, 20 por cento da sua produção já é destinada ao estrangeiro, nomeadamente a Alemanha, França, Suécia, Angola, Guiné, São Tomé e Príncipe, Estados Unidos, Goa e China.

Mas os responsáveis da Sociedade não se ficaram pelos vinhos, apesar dessa ser a sua actividade primordial. A estes, junta-se a produção de doces e compotas caseiros, de que o «Doce de Vinho» é o ex-libris. “Esta é uma das poucas especialidades gastronómicas da região e caiu de laboração”, explica Fernanda Filipe, recordando ainda que a iguaria era conhecida como «Doce dos Pobres». Feito a partir do mosto da uva, antes da fermentação, e com uma larga variedade de frutas, é um doce «natural», já que o único açúcar que apresenta é o das frutas.

A história rica que esta propriedade documenta não retira uma vírgula ao que dissemos anteriormente em relação ao Syrah que produz!

Numa expressão curta e de tipo popular poderíamos dizer que se trata de um Syrah que não aquece nem arrefece. É no entanto, como já ficou sublinhado, bebível, ao contrário de outros do mesmo calibre!

O mestre português da casta baga, típica da Bairrada, o engenheiro Luís Pato, disse uma vez: “Não se pode fazer vinho ao acaso – a Qualidade é o que o consumidor gosta e paga.”


Neste caso paga-se e não se gosta por aí além… e por vezes é assim!

Classificação: 14/20                                                    Preço: 4,80€


 

Encosta de Mouros, Adega Cooperativa da Mealhada, 100% Syrah, Bairrada, 2009

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Hoje começamos o dia por dizer da nossa isenção, enfatizando mais uma vez que o Blogue do Syrah não está ao serviço de quem seja, a não ser do grupo de consumidores exigentes ao qual pertencemos.

Por isso se um Syrah nos espanta, e nele encontramos características extraordinárias, não temos problema algum em o afirmar a plenos pulmões, não tendo nada a ganhar com esse facto a não ser o prazer de revelar algo tão fantástico e, se for possível, em primeira mão. Mas o que nunca esperámos foi que o contrário também iria de acontecer. E este é o primeiro caso. Infelizmente não é o único, mas é o primeiro de que falamos, ou seja, um monocasta Syrah a 100% que é um Syrah deplorável e mal amanhado, que de Syrah como nós o entendemos nada tem e, como tal, é considerado pelo Blogue do Syrah como inclassificável na bitola de 14 a 20, portanto nada mais nos resta senão atribuir-lhe um 0!

Outra coisa lamentável, e esta crítica não é feita pela primeira vez, infelizmente, é em relação ao tipo de divulgação que a Adega Cooperativa da Mealhada utiliza. E qual é? Nenhuma. Absolutamente nenhuma! Esta sociedade detentora do Syrah Encosta dos Mouros não tem site, não tem blogue, não tem sequer Facebook, não está presente em nenhuma outra rede social. Não há nada em discurso directo sobre esta sociedade e este Syrah. O que há é em sítios informativos, o nome da sociedade, a morada nº de telefone e nº de fax. Mais nada!

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Mas bem vistas as coisas ainda bem que é assim, porque em relação a este Syrah é preferível que o público consumidor nem sequer saiba que existe, porque assim não é tentado a ser ludibriado.

As notas de prova presente no contra rótulo da garrafa dizem que possui “aroma muito complexo a fruta madura de bagos vermelhos e ameixa, com notas de chocolate e especiarias. Apresenta intensidade corante muito persistente. No palato é equilibrado com boa estrutura e final de boca longo.”

Durante a nossa prova e degustação, tudo isto se revelou falso! Este Syrah é uma bebida de mau gosto, no sentido literal do termo, que chega a dar arranco de entranhas. Tem uma graduação alcoólica de 13,5%. Foram produzidas 7243 garrafas, cabendo à que foi bebida parcialmente pelo Blogue do Syrah, a muito custo, o número 5006.

O grande orador, filósofo e político romano, Cícero, já dizia que “Os vinhos são como os homens: com o tempo os maus azedam e os bons apuram.”

O Syrah da Adega Cooperativa da Mealhada nem precisa de tempo para azedar. É um vinho que nunca devia ter sido lançado no mercado. Os consumidores merecem mais e melhor.

Felizmente que o mundo do Syrah vai muito para além deste sobressalto!

 

Classificação: 0                         Preço: 6,00€