
Quando provamos um Syrah de que gostamos muito, sentimos imediatamente aquela sensação de prazer e anestesia geral, parece que o mundo se deteve e a única coisa relevante naquele momento é o líquido vínico que passeia pelas nossas papilas gustativas e desce garganta abaixo.
Depois desse momento de êxtase expressamos de um modo empolgado: Mas que Syrah! Que Syrah espectacular! Isso acontece graças ao sabor do Syrah.
As sensações gustativas revelam inicialmente quatro sabores elementares do Syrah: doce, salgado, ácido e amargo. Porém existe o quinto sabor, que é o ápice da sensação de ”delicioso”, que os asiáticos já conhecem por Umami. A sensibilidade cutânea transmite sensações tácteis (adstringência, aspereza e maciez ou untuosidade), térmicas e dolorosas, que poderíamos definir como complementares; o olfacto por sua vez fornece o aroma, que é o componente mais importante do gosto, pois é o que mais influencia o carácter e determina a qualidade. Todas estas sensações são percebidas quase ao mesmo tempo, e por isso muitas vezes é difícil analisar, separar e atribuir cada uma delas a uma determinada modalidade sensorial.
Para conseguir tirar o máximo proveito de um Syrah, existem técnicas que ajudam a sentir melhor os sabores, e com isso, ter uma melhor experiência na hora da degustação.
Uma dica básica é deixar o Syrah passear livremente pela boca, observando atentamente as diferentes sensações em cada região da língua e das mucosas. Estas sensações são os quatro sabores elementares do Syrah, e quem sabe, o tal Umami.
1. O sabor doce
No Syrah, o sabor doce é provocado não só pelos açúcares residuais (frutose e glicose), mas também pelo álcool e pela glicerina (glicerol). Estas substâncias são melhor percebidas na ponta da língua e na fase de ataque (primeira fase da análise gustativa, logo que o Syrah entra em contacto com a boca) e são reconhecidas não apenas por sua doçura, mas também porque provocam sobre as mucosas da boca uma sensação táctil de maciez e untuosidade.
2. O sabor salgado
É um sabor raramente encontrado nos Syrahs. É descrito, às vezes em Syrahs de regiões muito próximas ao oceano.
3. O sabor ácido
Proveniente, no caso dos Syrahs, dos ácidos próprios da uva (tartárico, cítrico e málico) ou dos ácidos provenientes da fermentação alcoólica (succínico, láctico e acético). Estas substâncias são percebidas nas bordas laterais da língua, também na fase de ataque e reconhecidas pela salivação fluída e abundante que provocam.
4. O sabor amargo
Os taninos podem provocar uma sensação de amargor discreto (em Syrahs jovens de boa qualidade) que é melhor sentido no fundo da língua, ou mesmo nenhum amargor (se estes taninos forem muito finos e maduros). O amargo intenso e desagradável é, sempre que presente, um defeito ou uma doença do Syrah.
5. O sabor Umami
Palavra japonesa que significa “saboroso” ou “delicioso”. Ocorreu nos últimos dez anos uma grande evolução na compreensão do gosto. A ciência ocidental identificou os quatro sabores básicos tradicionais: doce, amargo, salgado e ácido, determinados pelos receptores cognitivos do gosto. A tradição culinária manteve que, da união desses quatro sabores surgiriam todos os outros. Na Ásia, tradicionalmente sempre existiu a noção de cinco sabores elementares: o doce; o amargo; o salgado; o ácido e o picante (pimenta quente). Este quinto gosto aparece referenciado na literatura chinesa pelo menos a partir do terceiro século d.C. No Japão, o gosto “Umami” substituiu o quinto sabor – picante – e é considerado um dos sabores básicos, com um receptor próprio na língua. Em 1908, Kikunae Ikeda da Universidade Imperial de Tokyo, intrigado pelo sabor incomum a caldo de carne adocicado, foi o primeiro cientista a identificar o sabor umami como um sabor distinto. Isolou e identificou pelo menos um elemento do gosto de umami – o aminoácido glutamato.
“Umami” é associado com uma experiência da qualidade perfeita de um gosto. Diz-se também envolver todos os sentidos, não apenas o do gosto. Entretanto, já foi isolado e caracterizado o receptor do gosto de umami por Nirupa Chaudhari e respectivos colegas, na Universidade de Medicina da Escola de Miami.
O Syrah contém tipicamente um a quatro gramas de aminoácidos por litro. Sendo o umami um sinónimo da perfeição no gosto, existem enólogos que conseguem o aparecimento do sabor umami nos seus Syrahs, pelo uso de métodos artesanais: a fermentação ou envelhecimento em madeira, engarrafamento sem filtração, e envelhecimento em adegas/caves subterrâneas com temperatura e humidade controladas. Somente passados três a dez anos é que estes “Syrahs lentos” são comercializados. Normalmente são muito apreciados pelos adeptos do “Slow Food”.
Vai uma taça de Syrah com gosto a umami? Venha ela, ou elas!